domingo, 8 de janeiro de 2017

Feminista Evangélica defende Ideologia de Gênero, direito ao Aborto e Casamento Gay

Mestre em Ciências da Religião e doutora pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Valéria Vilhena, considerada feminista evangélica, defende em entrevista a ideologia de gênero, aborto e o casamento gay.

A postagem acima, ao que parece, é um desabafo. Antes dela, Vilhena postou: “devido a reportagem dada a UOL estou recebendo muitos xingamentos”. De fato, xingamentos e ofensas, calúnias, não devem ser aceitos numa sociedade onde a liberdade de expressão, consciência e exercício filosófico são garantias constitucionais. Todavia, o que parece ter sido motivo de polêmica na entrevista de Valeria Vilhena é a associação doutrinária que ela fez da igreja evangélica a violência doméstica, assim como sua defesa ao casamento gay, aborto e ideologia de gênero.
Sobre mulheres evangélicas que sofrem violência doméstica
Perguntada pelo UOL a razão da sua pesquisa durante o mestrado ter chegado a conclusão de que 40% das mulheres que sofrem violência doméstica são evangélicas, Vilhena após pontuar que o medo é uma das causas, fala sobre qual tipo de aconselhamento pastoral as mulheres evangélicas costumam receber dos pastores, dizendo:
“…o pastor aconselha mais submissão, em nome de Deus: ‘Seja sábia, fique calada, não enfrente’. A questão da interpretação, da hermenêutica da teologia, acaba fortalecendo ainda mais esse quadro de violência contra as mulheres no meio evangélico, porque a teologia que é passada é a da obediência ao marido.”
Não é possível dizer se a declaração conclusiva de Vilhena de que pastores dizem “fique calada, não enfrente” trata apenas de um caso trágico e biblicamente equivocado, o qual ela deve ter pleno conhecimento, ou se retrata todos os casos, pois a mesma não deixa claro se são fatos específicos, dando entender que essa é a prática comum e generalizada.
Por outro lado, de fato, a teologia cristã ensina obediência, porém, sob uma circunstância onde a “…questão da interpretação, da hermenêutica” não deixa margem para dúvida sobre qual contexto essa obediência (diferente de subserviência) acontece, como está escrito:
“Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, (…) Assim devem os maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja;” (Efésios 5:25-29)
 O conceito de obediência/submissão recomendado por Paulo em Efésios 5:24 não deve ser lido isoladamente, sem a amplitude da doutrina cristã, uma vez que “amar o próximo como a si mesmo” implica no respeito integral ao outro. Por isso Paulo associa o relacionamento do homem e da mulher ao modelo de Cristo e a Igreja. Ou seja; o sentido de obediência não trata de obrigatoriedade, subserviência, mas sim de entrega voluntária e confiança baseada numa autoridade demonstrada através do amor e cuidado recíprocos.

Sobre a “cultura do estupro”
Na questão “cultura do estupro”, Valeria Vilhena reforça a tese de que as diferenças de gênero na maneira como meninos e meninas são educados produzem, mais tarde, um estuprador em potencial.
“Se a gente pensar na cultura do estupro, tenho doutrinas na igreja que são muito mais rígidas com as meninas do que com os meninos. Nós, mulheres, é que provocamos com as nossas roupas, com a nossa maquiagem, com o nosso brinco.” 
Apenas por essa declaração não é possível identificar quais são as doutrinas que a Drª Vilhena diz ter na igreja (?) que faz dos homens “vítimas” e as mulheres provocadoras. Ao que parece, ela aborda de forma generalizada um estigma cultural sobre vestimentas que não nasceu na igreja, muito embora também esteja (porque igreja é feita de pessoas), mas que diz respeito a todos os segmentos sociais e presente em todo mundo.
Na prática, Vilhena associa, mais uma vez de forma conclusiva, que a ideia de provocação feminina dos homens pelo tipo de vestimenta parte de alguma doutrina que tem na igreja cristã, muito embora não aponte objetivamente quais são essas doutrinas e nem faça diferença do que é tradição e o que é doutrina bíblica. Com isso, ela afirma:
“A partir do momento em que eu reproduzo esses discursos, dou uma base doutrinária, teológica, para que as mulheres tenham um maior cuidado em se vestir para não provocar as “vítimas”, que são os homens”
Por outro lado, se não há como apontar uma doutrina cristã que fomente a “cultura do estupro”, é possível dizer que outras religiões se encaixam no que a Drª Vilhena afirma, algo que uma Mestre em Ciências da Religião deve saber muito bem, embora não faça nenhuma referência a elas, como por exemplo o Hinduísmo e o Islamismo, duas das quatro maiores religiões do planeta.
No Paquistão, na China e na Arábia Saudita, países onde cristãos são perseguidos, presos ou mortos por anunciarem o amor ao próximo, o estupro só é caracterizado se o sexo for praticado com mulheres menores de 15 anos. Isto significa, por exemplo, que as esposas não podem denunciar seus maridos por violência sexual, porque eles têm o direito legal sobre elas.
Na Índia, país que segundo a ONU é o pior local para uma mulher viver, registrando um estupro a cada 21 minutos, o Manusmriti, por exemplo, coleção de livros bramânicos também conhecidos como Código de Manu na variada doutrina hindu, as mulheres são postas como pessoas que em nenhuma fase da vida possuem independência. A divisão social em “castas” é outro elemento doutrinário que inferioriza as mulheres “dalits”, por exemplo, destratadas por sua condição.
Para a doutrina islâmica, a religião que hoje mais cresce no mundo, o estupro é um direito legal do marido que pode obrigar sua esposa a ter relações sexuais contra sua vontade. Esses são apenas alguns exemplos do que são, de fato, doutrinas religiosas que incentivam a cultura do estupro.

Sobre ideologia de gênero, aborto e casamento gay
 Questionada sobre o papel da mulher na igreja, Valeria Vilhena afirmou que “A maioria dos evangélicos não têm mulheres à frente dos trabalhos”, e completa:
“Elas são bem-vindas para serem mulheres de oração, de intercessão, para arrumar a igreja, para levar toalhinha, para cuidar da limpeza da igreja e para fazer visitas. Elas estão nos espaços de serviços, não de liderança da igreja”
Talvez, o fato de a feminista Vilhena declarar na entrevista que não frequenta mais nenhuma igreja, porque não é mais, segundo palavras dela; “igrejeira”, seja o motivo pelo qual sua afirmação não encontra respaldo na realidade das igrejas evangélicas onde mulheres – e homens – não se dedicam apenas ao honrado serviço cristão de limpeza, visita e outros, mas também a funções de liderança como as de missões/evangelismo, ensino, discipulado, setores administrativos e também diaconado e pastorado nas denominações que aceitam ordenamento feminino.
Desprezar os demais cargos de liderança que homens e mulheres ocupam nas igrejas, bem como desconsiderar o impasse estritamente teológico do ordenamento feminino que nada tem a ver com depreciação de gênero, para dar destaque aos serviços de “menor destaque” como se estes fossem funções exclusivas das mulheres impostas pelos homens é, no mínimo, uma tentativa de induzir o leitor a uma compreensão equivocada da realidade.
Ao ser questionada sobre o papel da bancada evangélica no Congresso, Vilhena disse ver “com muita tristeza, como um profundo retrocesso”. Ao que parece, Vilhena pertence ao grupo dos cristãos que enxergam a laicidade do Estado como ausência de posicionamento perante as políticas públicas do Estado. É isto o que significa, na prática, a declaração a seguir:
“Dou aula para professores da rede pública na formação continuada e costumo falar: ‘se na sua religião é pecado se dar ao amor, ao afeto homo, não se dê esse prazer; se na sua religião é pecado o aborto, não cometa aborto’. ‘Na sua religião’ é seu foro íntimo, é seu sistema de fé, fé não pode ser imposta a toda uma sociedade.”
Em outras palavras, Valeria Vilhena afirmou que se um projeto de lei fere os princípios cristãos que entendemos ser o correto, não deveríamos nos manifestar contra ou a favor através de representantes legalmente constituídos pelo voto (como a bancada evangélica, por exemplo), porque isto seria a tentativa de impor um sistema de fé a toda sociedade.
O cristão, portanto, sob a perspectiva da Mestre Vilhena, deverá em nome da “laicidade” deixar com que o restante da sociedade decida por ele tudo o que achar melhor, reduzindo ao “foro íntimo” sua fé e, portanto, abrindo mão de seu direito garantido por lei de livre expressão, consciência, crença e exercício filosófico, especialmente manifestos através dos políticos que escolhe para lhe representar no Congresso.
Cristãos “progressistas” usam argumentos semelhantes, tais como os de Vilhena, para dizer que a liberdade do outro em abortar, por exemplo, não deve ser pautada por minha consciência do que é certo ou errado. Todavia, o que esses mesmos cristãos não percebem, ou, se percebem, ignoram, é que nós também respondemos pelo que o outro faz com sua liberdade quando deixamos de nos posicionar acerca do que acreditamos, quer moralmente, político ou economicamente.
Para Valeria Vilhena, outro exemplo, a ideologia de gênero deveria ser discutida na escola e isso seria legítimo, essa é a sua crença. Para ela, essa crença não significa a tentativa de impor sua “fé” na ideologia de gênero a toda sociedade. Todavia, pais que apoiam o Escola Sem Partido por não aceitarem a ideologia de gênero ensinada para seus filhos, são retrógrados, pois significa que estão tentando pautar as políticas públicas segundo suas crenças.
Seguindo essa “lógica”, portanto, Vilhena não fala de um Estado laico representado democraticamente por vários segmentos, mas de um Estado onde as manifestações e representações só tem valor quando concordam com sua visão de “progresso”. Na prática, isso é nada mais do que a tentativa de substituir a fé da maioria por uma fé depositada na ideologia de alguns.
Finalmente, em todo caso, os temas levantados por Vilhena merecem diálogo franco, como ela afirma. Porém, o que não podemos é confundir o que significa a Igreja de Cristo com placas denominacionais ou erros de alguns, sua doutrina bíblica com tradição, muito menos ideologia política com o evangelho de Cristo. Essa é uma lição de EBD que vale para todos os cristãos, incluindo os mestres.

Fonte: Gospel+

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