segunda-feira, 23 de setembro de 2013

"Teologia da prosperidade” abre crise na Igreja Quadrangular

FABRICIANO – Nos últimos dois meses diversos pastores, antes ligados à Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) no Vale do Aço, decidiram abandonar a denominação religiosa e abrir novas igrejas. O assunto tem repercutido nas mídias sociais, com duras críticas às cobranças de dinheiro pela superintendência no Vale do Aço e da presidência nacional da instituição. Os ocorridos reacendem a discussão do modo em que denominações no Brasil administram igrejas em nome do enriquecimento e não apenas para cultuar a fé em Deus. 
 Ainda não há números exatos, mas estima-se que dezenas de pastores na Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA) resolveram baixar a placa da Quandrangular e não aceitar mais exigências, determinações e cobranças de taxas da liderança da igreja. O primeiro a tomar a decisão foi o pastor Renato Martins de Carvalho que liderava a Igreja Quadrangular do bairro Bom Jesus, em Coronel Fabriciano, considerada uma das maiores da região. 
 Com quase 21 anos de ministério a frente desta denominação, Renato de Carvalho dirigia outras 14 igrejas que tinham em média 400 membros. Ao deixar a Quadrangular o pastor Renato alugou um galpão próximo a área da antiga Rodoviária e começando do zero, fundou o Centro Internacional do Avivamento (CIA). Dos 400 fiéis lideradas por ele na IEQ, 99% resolveu segui-lo em sua nova igreja. 
O pastor conta que desde 2010 mudou o sistema de culto na igreja, retirando programações e direcionamentos característicos da antiga denominação. “Mesmo estando na Quadrangular, eu não fazia mais as correntes de oração que é muito próprio da igreja; eu não fazia mais campanhas, mas eu me voltei para um trabalho totalmente dirigido pelo Espírito Santo de Deus”, explica. 

Correntes
As campanhas realizadas na igreja estavam diretamente ligadas a objetos simbólicos, como lenços, cruzes, sal, água ou chaves usados como ponto de contatos com Deus. “Eu aprendi que eu não precisava fornecer esses objetos para as pessoas terem esse contato com Deus porque o Espírito Santo habita dentro das pessoas e por isso é que eu parei com as correntes”, explica. 
Segundo o pastor, as correntes eram um tipo de isca para atrair as pessoas para igreja. “Nessas campanhas nós convidamos outros preletores para pregar na igreja e isso tinha também como objetivo atrair as pessoas. Mas eu aprendi que se eu quero pessoas na igreja eu não preciso usar de artifícios ou de estratégias humanas, se eu trouxer Deus para dentro da igreja eu consigo trazer o povo”, comentou. 
Embora tivesse liberdade para liderar, conforme suas próprias convicções, o pastor Renato decidiu que era melhor sair da denominação já que não seguia a doutrina da IEQ. “Eu larguei minha zona de conforto, pois eu era pastor de uma boa igreja, em um imóvel próprio sem pagar aluguel e eu liderava outras 14 igrejas como superintendente, estava financeiramente e ministerialmente bem”, definiu.  

Política
Para o pastor Renato a liderança da Quadrangular precisa repensar e analisar seu modo de conduzir as igrejas, principalmente quanto ao envolvimento com a política. Na última Administração de Ipatinga, a atual superintendente regional das igrejas Quadrangular no Vale do Aço, a pastora Márcia Perozini ocupava o cargo de vice-prefeita do município. 
Renato de Carvalho acredita que um envolvimento desse tipo acaba forçando a igreja a tomar uma posição partidária, trazendo reflexos negativos para a denominação. “Eu tenho comigo que, se você foi chamado para ser pastor, então você deve ser pastor. Não se pode misturar as coisas, eu não acredito que uma pessoa possa ser pastor e político ao mesmo tempo, ou você entrega um ou outro, ou segue o chamado de pastor ou vai ser político”, defendeu.
Questionado sobre a ocasião em que chegou a cogitar sua candidatura a prefeito de Fabriciano, em meados do ano 2000, o pastor Renato disse que foi motivado por várias pessoas por acreditaram no seu potencial. “Eu acordei a tempo e decidi não em envolver, hoje não faria isso, sou apenas um apoiador e qualquer pastor da CIA que se envolver com política no sentido de ser candidato, não será mais pastor”, observou.
Liderança da Quadrangular não fala sobre o assunto
A reportagem do DIÁRIO DO AÇO procurou insistentemente, por vários dias, por um posicionamento oficial da Igreja Quadrangular no Vale do Aço, por meio da superintendente regional da IEQ, Márcia Perozini, que não atendeu e nem mesmo retornou as ligações e mensagens deixadas pela reportagem com suas secretárias. 
A liderança nacional da IEQ também foi procurada pelo DIÁRIO DO AÇO e por meio da assessoria do pastor Mário de Oliveira, presidente nacional da Quadrangular no Brasil. A resposta é que Mário de Oliveira pediria à pastora Márcia Perozini para falar sobre o assunto, o que também não ocorreu.
          Débora Cristina, Mário Alves e João Carlos, pastores que também decidiram sair da Igreja do Evangelho Quandrangular
Outros quatro pastores que também decidiram deixar a Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) abriram novas igrejas, com a mesma denominação batizada pelo pastor Renato de Carvalho, Centro Internacional do Avivamento (CIA). Eles explicam que não haverá liderança regional, como na IEQ e cada uma dessas igrejas agora terá sua liderança independente, com seu próprio estatuto. 
 A pastora Débora Cristina Caetano Rodrigues, do bairro Amaro Lanari, em Coronel Fabriciano, conta que sua decisão não foi tomada por influência do pastor Renato. A saída dela, da antiga denominação, foi seguida por todos os seus membros. “Nós permanecemos no mesmo endereço porque o imóvel era alugado, mas a Quadrangular retirou todos os móveis e nós tivemos que começar tudo de novo. Valeu a pena, estamos mudando a história”, se orgulha. 
 Mário Alves Costa Filho era pastor da IEQ do bairro do Quitandinha, em Timóteo, e conta que aguardava esse acontecimento mas não tão rápido como ocorreu. “Eu percebi que o nosso caminho era sem volta e na realidade a gente já estava vivendo esse novo ministério, mesmo estando com uma placa de outra denominação. O que aconteceu é que a nossa liderança eram homens que deixaram de ser pastores para serem homens de negócio e políticos, isso vinha afetando o nosso ministério e nos fazendo sofrer muito com isso”, lamenta.

Prédios
Uma das grandes polêmicas repercutidas nas mídias sociais, com a saída do pastores, foi em relação à entrega dos templos. Os pastores informam que o estatuto da IEQ é claro: os prédios construídos pertencem à denominação e, por isso, ao deixar a denominação os pastores precisam devolver os templos.
Mas no bairro Primavera, em Timóteo, o processo para entrega do templo, terminou em confusão e em ocorrência policial. O pastor João Carlos, que comandava a igreja conta que, quando seus membros também decidiram sair da denominação, foi combinado um prazo para a entrega do templo, porém antes do término do prazo, a pastora Márcia Perozini foi ao local da igreja, juntamente com outros pastores para tomar posse do imóvel. O ocorrido terminou em desentendimento e foi necessário requisitar a presença de força policial, com o registro de boletim de ocorrência. 
Posteriormente, o imóvel foi devolvido à IEQ e os fiéis passaram a se reunir em outro lugar. Mas há informações, dos fiéis, de que em outro bairro em Timóteo, um pastor mudou de denominação e já avisou que pretende brigar na justiça pela posse do templo onde trabalha.

                                     Pr.Renato e a esposa Sandra na frente de sua nova igreja

Nova visão financeira para igreja
Questionado sobre como pretende mudar a visão crítica das pessoas, em relação ao modo como as igrejas evangélicas e, em especial a IEQ, tratam o dinheiro, o pastor Renato de Carvalho diz que tem procurado orientar as pessoas a não fazerem nada de si mesmas e sim, tudo orientado por Deus. “Não devemos negociar com Deus, dizer que vai dar tanto para ganhar tanto. Nós não fazemos mais isso, não aceitamos mais essa negociação com Deus. A pessoa deve fazer conforme Deus tocar no seu coração. Outra decisão que nós tomamos no Centro Internacional do Avivamento é de não promover o enriquecimento da igreja e dos pastores, sem ofertas com valores definidos. Não é para o pastor enriquecer e tudo que nós comprarmos será para o ministério”, assegurou.

História da Quadrangular
Aimée Semple McPherson (1890-1944), uma evangelista conhecida como "Irmã Aimee", fundou a Igreja do Evangelho Quadrangular em 1922. A igreja é uma denominação cristã evangélica pentecostal (têm base no poder do Espírito Santo). Chegou ao Brasil em 15 de novembro de 1951, pelo missionário Harold Edwin Williams, natural de Los Angeles (EUA), que se instalou no município paulistano de São João da Boa Vista.

Estima-se que a IEQ atualmente esteja presente em 107 países, funcionando de forma autônoma em cada nação. No Vale do Aço é uma das maiores denominações, com igrejas espalhadas por quase todos os bairros dos municípios, somando milhares de fiéis. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário