FABRICIANO – Nos últimos
dois meses diversos pastores, antes ligados à Igreja do Evangelho Quadrangular
(IEQ) no Vale do Aço, decidiram abandonar a denominação religiosa e abrir novas
igrejas. O assunto tem repercutido nas mídias sociais, com duras críticas às
cobranças de dinheiro pela superintendência no Vale do Aço e da presidência
nacional da instituição. Os ocorridos reacendem a discussão do modo em que
denominações no Brasil administram igrejas em nome do enriquecimento e não
apenas para cultuar a fé em Deus.
Ainda não há números exatos,
mas estima-se que dezenas de pastores na Região Metropolitana do Vale do Aço
(RMVA) resolveram baixar a placa da Quandrangular e não aceitar mais
exigências, determinações e cobranças de taxas da liderança da igreja. O primeiro
a tomar a decisão foi o pastor Renato Martins de Carvalho que liderava a Igreja
Quadrangular do bairro Bom Jesus, em Coronel Fabriciano, considerada uma das
maiores da região.
Com quase 21 anos de
ministério a frente desta denominação, Renato de Carvalho dirigia outras 14
igrejas que tinham em média 400 membros. Ao deixar a Quadrangular o pastor
Renato alugou um galpão próximo a área da antiga Rodoviária e começando do
zero, fundou o Centro Internacional do Avivamento (CIA). Dos 400 fiéis
lideradas por ele na IEQ, 99% resolveu segui-lo em sua nova igreja.
O pastor conta que desde 2010
mudou o sistema de culto na igreja, retirando programações e direcionamentos
característicos da antiga denominação. “Mesmo estando na Quadrangular, eu não
fazia mais as correntes de oração que é muito próprio da igreja; eu não fazia
mais campanhas, mas eu me voltei para um trabalho totalmente dirigido pelo
Espírito Santo de Deus”, explica.
Correntes
As campanhas realizadas na
igreja estavam diretamente ligadas a objetos simbólicos, como lenços, cruzes,
sal, água ou chaves usados como ponto de contatos com Deus. “Eu aprendi que eu
não precisava fornecer esses objetos para as pessoas terem esse contato com
Deus porque o Espírito Santo habita dentro das pessoas e por isso é que eu
parei com as correntes”, explica.
Segundo o pastor, as correntes
eram um tipo de isca para atrair as pessoas para igreja. “Nessas campanhas nós
convidamos outros preletores para pregar na igreja e isso tinha também como
objetivo atrair as pessoas. Mas eu aprendi que se eu quero pessoas na igreja eu
não preciso usar de artifícios ou de estratégias humanas, se eu trouxer Deus
para dentro da igreja eu consigo trazer o povo”, comentou.
Embora tivesse liberdade para
liderar, conforme suas próprias convicções, o pastor Renato decidiu que era
melhor sair da denominação já que não seguia a doutrina da IEQ. “Eu larguei
minha zona de conforto, pois eu era pastor de uma boa igreja, em um imóvel
próprio sem pagar aluguel e eu liderava outras 14 igrejas como superintendente,
estava financeiramente e ministerialmente bem”, definiu.
Política
Para o pastor Renato a
liderança da Quadrangular precisa repensar e analisar seu modo de conduzir as
igrejas, principalmente quanto ao envolvimento com a política. Na última
Administração de Ipatinga, a atual superintendente regional das igrejas
Quadrangular no Vale do Aço, a pastora Márcia Perozini ocupava o cargo de
vice-prefeita do município.
Renato de Carvalho acredita
que um envolvimento desse tipo acaba forçando a igreja a tomar uma posição
partidária, trazendo reflexos negativos para a denominação. “Eu tenho comigo
que, se você foi chamado para ser pastor, então você deve ser pastor. Não se
pode misturar as coisas, eu não acredito que uma pessoa possa ser pastor e
político ao mesmo tempo, ou você entrega um ou outro, ou segue o chamado de
pastor ou vai ser político”, defendeu.
Questionado sobre a ocasião em
que chegou a cogitar sua candidatura a prefeito de Fabriciano, em meados do ano
2000, o pastor Renato disse que foi motivado por várias pessoas por acreditaram
no seu potencial. “Eu acordei a tempo e decidi não em envolver, hoje não faria
isso, sou apenas um apoiador e qualquer pastor da CIA que se envolver com
política no sentido de ser candidato, não será mais pastor”, observou.
Liderança da Quadrangular não
fala sobre o assunto
A reportagem do DIÁRIO DO AÇO
procurou insistentemente, por vários dias, por um posicionamento oficial da
Igreja Quadrangular no Vale do Aço, por meio da superintendente regional da
IEQ, Márcia Perozini, que não atendeu e nem mesmo retornou as ligações e
mensagens deixadas pela reportagem com suas secretárias.
A liderança nacional da IEQ
também foi procurada pelo DIÁRIO DO AÇO e por meio da assessoria do pastor
Mário de Oliveira, presidente nacional da Quadrangular no Brasil. A resposta é
que Mário de Oliveira pediria à pastora Márcia Perozini para falar sobre o
assunto, o que também não ocorreu.
Débora Cristina, Mário Alves e
João Carlos, pastores que também decidiram sair da Igreja do Evangelho
Quandrangular
Outros quatro pastores que
também decidiram deixar a Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) abriram novas
igrejas, com a mesma denominação batizada pelo pastor Renato de Carvalho,
Centro Internacional do Avivamento (CIA). Eles explicam que não haverá liderança
regional, como na IEQ e cada uma dessas igrejas agora terá sua liderança
independente, com seu próprio estatuto.
A pastora Débora Cristina
Caetano Rodrigues, do bairro Amaro Lanari, em Coronel Fabriciano, conta que sua
decisão não foi tomada por influência do pastor Renato. A saída dela, da antiga
denominação, foi seguida por todos os seus membros. “Nós permanecemos no mesmo
endereço porque o imóvel era alugado, mas a Quadrangular retirou todos os
móveis e nós tivemos que começar tudo de novo. Valeu a pena, estamos mudando a
história”, se orgulha.
Mário Alves Costa Filho era
pastor da IEQ do bairro do Quitandinha, em Timóteo, e conta que aguardava esse
acontecimento mas não tão rápido como ocorreu. “Eu percebi que o nosso caminho
era sem volta e na realidade a gente já estava vivendo esse novo ministério,
mesmo estando com uma placa de outra denominação. O que aconteceu é que a nossa
liderança eram homens que deixaram de ser pastores para serem homens de negócio
e políticos, isso vinha afetando o nosso ministério e nos fazendo sofrer muito
com isso”, lamenta.
Prédios
Uma das grandes polêmicas
repercutidas nas mídias sociais, com a saída do pastores, foi em relação à
entrega dos templos. Os pastores informam que o estatuto da IEQ é claro: os
prédios construídos pertencem à denominação e, por isso, ao deixar a
denominação os pastores precisam devolver os templos.
Mas no bairro Primavera, em
Timóteo, o processo para entrega do templo, terminou em confusão e em
ocorrência policial. O pastor João Carlos, que comandava a igreja conta que,
quando seus membros também decidiram sair da denominação, foi combinado um
prazo para a entrega do templo, porém antes do término do prazo, a pastora
Márcia Perozini foi ao local da igreja, juntamente com outros pastores para
tomar posse do imóvel. O ocorrido terminou em desentendimento e foi necessário
requisitar a presença de força policial, com o registro de boletim de
ocorrência.
Posteriormente, o imóvel foi
devolvido à IEQ e os fiéis passaram a se reunir em outro lugar. Mas há
informações, dos fiéis, de que em outro bairro em Timóteo, um pastor mudou de
denominação e já avisou que pretende brigar na justiça pela posse do templo
onde trabalha.
Pr.Renato e a esposa Sandra na
frente de sua nova igreja
Nova visão financeira para
igreja
Questionado sobre como
pretende mudar a visão crítica das pessoas, em relação ao modo como as igrejas
evangélicas e, em especial a IEQ, tratam o dinheiro, o pastor Renato de
Carvalho diz que tem procurado orientar as pessoas a não fazerem nada de si
mesmas e sim, tudo orientado por Deus. “Não devemos negociar com Deus, dizer
que vai dar tanto para ganhar tanto. Nós não fazemos mais isso, não aceitamos
mais essa negociação com Deus. A pessoa deve fazer conforme Deus tocar no seu
coração. Outra decisão que nós tomamos no Centro Internacional do Avivamento é
de não promover o enriquecimento da igreja e dos pastores, sem ofertas com
valores definidos. Não é para o pastor enriquecer e tudo que nós comprarmos
será para o ministério”, assegurou.
História da Quadrangular
Aimée Semple McPherson
(1890-1944), uma evangelista conhecida como "Irmã Aimee", fundou a
Igreja do Evangelho Quadrangular em 1922. A igreja é uma denominação cristã
evangélica pentecostal (têm base no poder do Espírito Santo). Chegou ao Brasil
em 15 de novembro de 1951, pelo missionário Harold Edwin Williams, natural de
Los Angeles (EUA), que se instalou no município paulistano de São João da Boa
Vista.
Estima-se que a IEQ atualmente
esteja presente em 107 países, funcionando de forma autônoma em cada nação. No
Vale do Aço é uma das maiores denominações, com igrejas espalhadas por quase
todos os bairros dos municípios, somando milhares de fiéis.
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