O Senado tirou PL da Homofobia da pauta e a
Câmara aprovou propostas contrárias à causa dos gays. Enquanto Ana Rita (PT-ES)
e presidente da ABLGT criticam setores religiosos conservadores, Feliciano diz
que partidos fugiram do debate
Em um mesmo dia, a
comunidade LGBT(Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) sofreu derrotas nas
comissões de Direitos Humanos da Câmara e do Senado. Para parlamentares ligados
a esses grupos, a culpa é da bancada evangélica no Congresso, em especial seus
os integrantes do movimento neopentecostal. Enquanto o Projeto de Lei 122/06,
que trata do crime de ódio contra gênero, orientação sexual e raça, foi
retirado de votação pelos senadores, deputados aprovaram duas
propostas que contrariam decisões da Justiça em favor dos gays.
“O que está empacando é o
setor de neopentencostais, que não admite a aprovação desse projeto. Esse
projeto tem acordo com as igrejas evangélicas; igrejas mais progressistas; com
a Igreja Católica; com o movimento LGBT; com o governo, por meio da Secretaria
de Direitos Humanos; mas, infelizmente, aqui no Congresso, tem uma
representação de parlamentares neopentencostais que não admitem que esse
projeto seja aprovado”, afirmou a presidente da CDH do Senado, senadora Ana
Rita (PT-ES), ao Congresso em Foco.
Foi justamente na comissão
presidida por Ana Rita que houve a primeira derrota do setor. Na manhã de
quarta-feira, estava prevista a votação do PL 122. Apesar de tramitar na Casa
há mais de sete anos, ainda não conseguiu ser analisado na comissão de mérito.
Integrantes da bancada evangélica nas duas Casas do Congresso e representantes
de igrejas se manifestaram na sessão, impossibilitando a votação da proposta.
Inicialmente, o texto
apresentado pela deputada Iara Bernardi (PT-SP) criminalizava a homofobia.
Porém, após sucessivas negociações com a bancada evangélica, o termo foi
retirado da proposta e foi adotada uma redação mais
genérica. O relator do PL, Paulo Paim (PT-RS), ampliou a lei que já pune a
discriminação racial e o capítulo do Código Penal que trata do crime de injúria
para incluir o combate a todo tipo de preconceito, não apenas aos homossexuais,
mas também ao direcionado a idosos, mulheres e pessoas com deficiências
físicas.
“Fundamentalistas”
Em discurso no plenário do
Senado na quarta-feira, o senador Magno Malta (PR-ES), um dos integrantes da
bancada evangélica no Congresso, disse que o PL 122 pretende criar um
“império homossexual” no país. Crítico do projeto – “é uma anomalia” -, o
parlamentar capixaba entende que, com as mudanças elaboradas por Paim, fica
aberto o caminho para a criação do “estatuto do homossexual”.
“É um império homossexual, em
que eles podem tudo e ninguém pode nada. Por exemplo: se não alugar casa a um
homossexual, você vai preso; se não admitir, você vai preso; se demitir, vai
preso também. São essas as aberrações que existem no bojo daquele projeto. E
mais: você vai preso se não aceitar a opção sexual do indivíduo. Ou seja: você
está criminalizado e é obrigado, se não é um criminoso, a aceitar a opção
sexual dele”, disse.
Em nota, o presidente da
Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
(ABGLT), Carlos Magno, diz que “esse povo apenas quer impor a teocracia”. Ele
entende que os parlamentares da bancada evangélica devem, ao citar dados de
violência contra homossexuais, serem responsabilizados “pelas mortes, pela
violência e pelas discriminações que fazem vítimas de milhares de brasileiras e
brasileiros todos os anos”.
“Este povo fundamentalista não
quer diálogo, este povo quer transformar o Brasil em uma ditadura
fundamentalista que faz acepção a quem não siga seus dogmas. Este povo perdeu
os valores: semeia o ódio contra a população LGBT. Basta ver conteúdos de
determinadosprogramas de
televisão apresentados por pastores fundamentalistas, sem falar da vergonhosa
Comissão da Câmara dos Deputados que não é digna do nome de Direitos Humanos e
Cidadania”, afirmou.
Acordo
Ana Rita garante que existe
acordo com igrejas e com o governo para aprovação da proposta. Mas coloca na conta
dos neopentecostais a culpa pela proposta não avançar no Senado. “Eu acho que a
religiosidade não pode se sobrepor a questão dos direitos humanos. A defesa dos
direitos humanos tem de estar acima de qualquer religião, de qualquer
identidade religiosa. E o que está prevalecendo aqui, por parte de alguns
parlamentares, é a crença acima dos direitos humanos. Eu acho quem é cristão, e
tem fé, tem de defender os direitos humanos. E o Estado é laico”, disse.
Com a retirada de pauta, a
proposta não tem data para ser analisada novamente. Paim e Ana Rita vão retomar
as negociações com os líderes para o texto ser analisado. “Eu, sinceramente,
espero que possamos aprovar esse projeto. Na minha opinião, é um grande avanço
na conquista de direitos de toda essa população e, particularmente, da
população LGBT, que é altamente discriminada em nossa sociedade”,
comentou a presidente da CDH.
Casamento, direitos
previdenciários e plebiscitos
Horas depois, a CDH da Câmara,
em uma sessão esvaziada, aprovou dois projetos e rejeitou um diretamente
ligados aos grupos LGBT. O primeiro deles foi o Projeto de Decreto Legislativo
871/13, que revoga a resolução (175/13) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
editada para obrigar cartórios a celebrar casamentos de pessoas do mesmo sexo.
A mesma norma torna obrigatória a conversão para casamento de união estável
entre homossexuais.
Na sequência, a comissão de
Direitos Humanos rejeitou projeto do ex-deputado Maurício Rands (PE), que
permite a inclusão de companheiros gays como dependentes na Previdência Social.
No fim, ainda aprovaram um projeto de resolução que prevê a realização de
plebiscito nacional sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo. “Essa
comissão não é séria, propor isso não é sério, é um escárnio com o país”,
afirmou o deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), que deixou a CDH após a eleição
do Pastor
Marco Feliciano (PSC-SP) para a presidência do colegiado.
Para Feliciano, “faltou o
contraditório”. “Os partidos que defendem a causa [LGBT] simplesmente fugiram da
comissão. Cadê o contraditório, não apareceram aqui. Ou não estão defendendo
direito ou ign oraram a nossa votação”, afirmou, em referência à decisão de
deputados do PT, PCdoB e Psol em sair do colegiado. Presidente da CDH desde o
início do ano, sofreu reações de grupos ligados a direitos humanos por conta de
declarações dadas no passado. Nenhum dos projetos aprovados na quarta são de
autoria dele.
Trâmite
Apesar de a CDH ser a comissão
de mérito, todas as propostas ainda precisam passar por outros colegiados. O
plebiscito, por exemplo, segue para a Finanças e Tributação (CFT) e depois pela
Constituição e Justiça (CCJ). Feliciano entende que a “falta de coragem” em
debater assuntos relacionados a LGBT levam o Supremo Tribunal Federal (STF) e o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a atuarem no vácuo legislativo. “Existe uma
interferência nos poderes. O STF não pode mudar a Constituição, apenas esta
Casa pode fazer.”
Em abril, o CNJ aprovou uma
resolução para obrigar os cartórios de registro a reconhecer a
união civil entre pessoas do mesmo sexo e celebrar o casamento homoafetivo.
Para aprovar a determinação, o conselho se baseou em decisão do Supremo de maio
de 2011, quando a mais alta corte reconheceu a união
estável entre pessoas do mesmo sexo.
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