Mestre em Ciências da Religião e doutora pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie, Valéria Vilhena, considerada feminista evangélica,
defende em entrevista a ideologia de gênero, aborto e o casamento gay.
A postagem acima, ao que parece, é um desabafo. Antes dela, Vilhena postou: “devido
a reportagem dada a UOL estou recebendo muitos xingamentos”. De fato,
xingamentos e ofensas, calúnias, não devem ser aceitos numa sociedade onde a
liberdade de expressão, consciência e exercício filosófico são garantias
constitucionais. Todavia, o que parece ter sido motivo de polêmica na
entrevista de Valeria Vilhena é a associação doutrinária que ela fez
da igreja evangélica a violência doméstica, assim como sua defesa ao casamento
gay, aborto e ideologia de gênero.
Sobre mulheres evangélicas que sofrem violência doméstica
Perguntada pelo UOL a razão da sua pesquisa durante o mestrado ter
chegado a conclusão de que 40% das mulheres que sofrem violência doméstica
são evangélicas, Vilhena após pontuar que o medo é uma das causas,
fala sobre qual tipo de aconselhamento pastoral as mulheres evangélicas
costumam receber dos pastores, dizendo:
“…o pastor aconselha mais submissão, em nome de Deus: ‘Seja sábia,
fique calada, não enfrente’. A questão da interpretação, da hermenêutica da
teologia, acaba fortalecendo ainda mais esse quadro de violência contra as
mulheres no meio evangélico, porque a teologia que é passada é a da obediência
ao marido.”
Não é possível dizer se a declaração conclusiva de Vilhena de
que pastores dizem “fique calada, não enfrente” trata apenas de um
caso trágico e biblicamente equivocado, o qual ela deve ter pleno conhecimento,
ou se retrata todos os casos, pois a mesma não deixa claro se são fatos
específicos, dando entender que essa é a prática comum e generalizada.
Por outro lado, de fato, a teologia cristã ensina obediência, porém,
sob uma circunstância onde a “…questão da interpretação, da hermenêutica” não
deixa margem para dúvida sobre qual contexto essa obediência (diferente de
subserviência) acontece, como está escrito:
“Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a
igreja, e a si mesmo se entregou por ela, (…) Assim devem os
maridos amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem
ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém odiou a sua
própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à
igreja;” (Efésios 5:25-29)
O conceito de obediência/submissão recomendado por Paulo em Efésios
5:24 não deve ser lido isoladamente, sem a amplitude da doutrina cristã,
uma vez que “amar o próximo como a si mesmo” implica no respeito integral ao
outro. Por isso Paulo associa o relacionamento do homem e da mulher ao
modelo de Cristo e a Igreja. Ou seja; o sentido de obediência não trata de
obrigatoriedade, subserviência, mas sim de entrega voluntária e confiança
baseada numa autoridade demonstrada através do amor e cuidado recíprocos.
Sobre a “cultura do estupro”
Na questão “cultura do estupro”, Valeria Vilhena reforça
a tese de que as diferenças de gênero na maneira como meninos e meninas são
educados produzem, mais tarde, um estuprador em potencial.
“Se a gente pensar na cultura do estupro, tenho doutrinas na igreja que
são muito mais rígidas com as meninas do que com os meninos. Nós, mulheres, é
que provocamos com as nossas roupas, com a nossa maquiagem, com o nosso
brinco.”
Apenas por essa declaração não é possível identificar quais são as
doutrinas que a Drª Vilhena diz ter na igreja (?) que faz dos homens
“vítimas” e as mulheres provocadoras. Ao que parece, ela aborda de forma
generalizada um estigma cultural sobre vestimentas que não nasceu na igreja,
muito embora também esteja (porque igreja é feita de pessoas), mas que diz
respeito a todos os segmentos sociais e presente em todo mundo.
Na prática, Vilhena associa, mais uma vez de forma
conclusiva, que a ideia de provocação feminina dos homens pelo tipo de
vestimenta parte de alguma doutrina que tem na igreja cristã, muito embora não
aponte objetivamente quais são essas doutrinas e nem faça diferença do que é
tradição e o que é doutrina bíblica. Com isso, ela afirma:
“A partir do momento em que eu reproduzo esses discursos, dou uma base
doutrinária, teológica, para que as mulheres tenham um maior cuidado em se
vestir para não provocar as “vítimas”, que são os homens”
Por outro lado, se não há como apontar uma doutrina cristã que fomente
a “cultura do estupro”, é possível dizer que outras religiões se encaixam no
que a Drª Vilhena afirma, algo que uma Mestre em Ciências da Religião
deve saber muito bem, embora não faça nenhuma referência a elas, como por
exemplo o Hinduísmo e o Islamismo, duas das quatro maiores religiões do
planeta.
No Paquistão, na China e na Arábia Saudita, países onde cristãos são
perseguidos, presos ou mortos por anunciarem o amor ao próximo, o estupro só é
caracterizado se o sexo for praticado com mulheres menores de 15 anos. Isto
significa, por exemplo, que as esposas não podem denunciar seus maridos por
violência sexual, porque eles têm o direito legal sobre elas.
Na Índia, país que segundo a ONU é o pior local para uma mulher viver,
registrando um estupro a cada 21 minutos, o Manusmriti, por exemplo,
coleção de livros bramânicos também conhecidos como Código de Manu na
variada doutrina hindu, as mulheres são postas como pessoas que em nenhuma fase
da vida possuem independência. A divisão social em “castas” é outro elemento
doutrinário que inferioriza as mulheres “dalits”, por exemplo, destratadas por
sua condição.
Para a doutrina islâmica, a religião que hoje mais cresce no mundo, o
estupro é um direito legal do marido que pode obrigar sua esposa a ter relações
sexuais contra sua vontade. Esses são apenas alguns exemplos do que são, de
fato, doutrinas religiosas que incentivam a cultura do estupro.
Sobre ideologia de gênero, aborto e casamento gay
Questionada sobre o papel da mulher na igreja, Valeria Vilhena afirmou
que “A maioria dos evangélicos não têm mulheres à frente dos
trabalhos”, e completa:
“Elas são bem-vindas para serem mulheres de oração, de intercessão,
para arrumar a igreja, para levar toalhinha, para cuidar da limpeza da igreja e
para fazer visitas. Elas estão nos espaços de serviços, não de liderança da
igreja”
Talvez, o fato de a feminista Vilhena declarar na entrevista
que não frequenta mais nenhuma igreja, porque não é mais, segundo palavras
dela; “igrejeira”, seja o motivo pelo qual sua afirmação não encontra
respaldo na realidade das igrejas evangélicas onde mulheres – e homens – não se
dedicam apenas ao honrado serviço cristão de limpeza, visita e outros, mas
também a funções de liderança como as de missões/evangelismo, ensino,
discipulado, setores administrativos e também diaconado e pastorado nas
denominações que aceitam ordenamento feminino.
Desprezar os demais cargos de liderança que homens e mulheres ocupam
nas igrejas, bem como desconsiderar o impasse estritamente teológico do
ordenamento feminino que nada tem a ver com depreciação de gênero, para dar
destaque aos serviços de “menor destaque” como se estes fossem funções
exclusivas das mulheres impostas pelos homens é, no mínimo, uma tentativa de
induzir o leitor a uma compreensão equivocada da realidade.
Ao ser questionada sobre o papel da bancada evangélica no Congresso, Vilhena disse
ver “com muita tristeza, como um profundo retrocesso”. Ao que parece, Vilhena pertence
ao grupo dos cristãos que enxergam a laicidade do Estado como ausência de
posicionamento perante as políticas públicas do Estado. É isto o que significa,
na prática, a declaração a seguir:
“Dou aula para professores da rede pública na formação continuada e
costumo falar: ‘se na sua religião é pecado se dar ao amor, ao afeto homo, não
se dê esse prazer; se na sua religião é pecado o aborto, não cometa aborto’.
‘Na sua religião’ é seu foro íntimo, é seu sistema de fé, fé não pode ser
imposta a toda uma sociedade.”
Em outras palavras, Valeria Vilhena afirmou que se um projeto
de lei fere os princípios cristãos que entendemos ser o correto, não
deveríamos nos manifestar contra ou a favor através de representantes
legalmente constituídos pelo voto (como a bancada evangélica, por exemplo),
porque isto seria a tentativa de impor um sistema de fé a toda sociedade.
O cristão, portanto, sob a perspectiva da Mestre Vilhena, deverá
em nome da “laicidade” deixar com que o restante da sociedade decida por ele
tudo o que achar melhor, reduzindo ao “foro íntimo” sua fé e, portanto,
abrindo mão de seu direito garantido por lei de livre expressão, consciência,
crença e exercício filosófico, especialmente manifestos através dos políticos
que escolhe para lhe representar no Congresso.
Cristãos “progressistas” usam argumentos semelhantes, tais como os de Vilhena,
para dizer que a liberdade do outro em abortar, por exemplo, não deve ser
pautada por minha consciência do que é certo ou errado. Todavia, o que esses
mesmos cristãos não percebem, ou, se percebem, ignoram, é que nós também
respondemos pelo que o outro faz com sua liberdade quando deixamos de nos
posicionar acerca do que acreditamos, quer moralmente, político ou
economicamente.
Para Valeria Vilhena, outro exemplo, a ideologia de
gênero deveria ser discutida na escola e isso seria legítimo, essa é a sua
crença. Para ela, essa crença não significa a tentativa de impor sua “fé” na
ideologia de gênero a toda sociedade. Todavia, pais que apoiam o Escola Sem
Partido por não aceitarem a ideologia de gênero ensinada para seus filhos,
são retrógrados, pois significa que estão tentando pautar as políticas públicas
segundo suas crenças.
Seguindo essa “lógica”, portanto, Vilhena não fala de um Estado laico
representado democraticamente por vários segmentos, mas de um Estado onde as
manifestações e representações só tem valor quando concordam com sua visão
de “progresso”. Na prática, isso é nada mais do que a tentativa de substituir a
fé da maioria por uma fé depositada na ideologia de alguns.
Finalmente, em todo caso, os temas levantados por Vilhena merecem
diálogo franco, como ela afirma. Porém, o que não podemos é confundir o que
significa a Igreja de Cristo com placas denominacionais ou erros de alguns, sua
doutrina bíblica com tradição, muito menos ideologia política com o evangelho
de Cristo. Essa é uma lição de EBD que vale para todos os cristãos, incluindo
os mestres.
Fonte: Gospel+
Fonte: Gospel+
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