Duas estudantes, de 18 e 20
anos, foram presas na noite deste domingo, após se beijarem durante evento
evangélico realizado em São Sebastião, litoral norte de São Paulo. O protesto
foi realizado enquanto o pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC/SP)
iniciava sua pregação a cerca de dois mil fiéis. Para o evento, um forte
esquema policial foi montado pelas polícias Civil, Militar e Guarda Civil
Municipal (GCM) com intuito de evitar manifestações durante o 5º Glorifica
Litoral, que estavam programadas para ocorrer durante o culto com o deputado.
— Essas duas precisam sair
daqui algemadas —, bradou Feliciano, sob aplausos dos evangélicos, que
assistiram à cena por meio de dois telões.
Do palco, o deputado instruía
os policiais a localizarem as jovens em meio à multidão. Joana Palhares, 18, e
Yunka Mihura, 20, foram cercadas, detidas e algemadas por guardas municipais e
encaminhadas para o 1º Distrito Policial de São Sebastião. Elas foram liberadas
após prestarem depoimento. A atitude gerou revolta em um grupo de 10 pessoas
que acompanhava as duas jovens.
Antes de serem encaminhadas
para a delegacia, elas foram levadas para debaixo do palco, onde Joana afirmou
ter sido agredida por diversos GCMs.
— Só pararam porque a Yunca
gritou muito.
Segundo ela, Yunca chegou a
ser jogada pelos GCMs para o lado da grade que separava o palco do público. Na
delegacia, após passar por exame de corpo delito, Joana, que tem corpo
franzino, apresentava diversos hematomas nos braços e nas costas.
— Eles (guardas) simplesmente
me jogaram na grade e depois nos levaram para debaixo do palco, onde fui
agredida por três guardas e ainda levei dois tapas na cara, mesmo algemada.
Tudo isso por causa de um beijo —, queixou-se Joana.
— Foi uma atitude
completamente injusta, me senti impotente enquanto a Joana apanhava e eu não
podia fazer nada. Mas vários casais heterossexuais estavam se beijando
normalmente no evento —, relatou Yunca.
Denúncia
O advogado Daniel Galani, que
representou as jovens, disse que irá formalizar uma denúncia contra o deputado
na Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
— Foi uma afronta gravíssima
aos direitos humanos e ao direito à livre expressão. Como o deputado tem foro
privilegiado, vamos ver como a OAB pode interferir nesta questão.
Um boletim de ocorrência foi
registrado pelas estudantes contra os guardas municipais que participaram da
ocorrência.
— Vamos apresentar também uma
denúncia na corregedoria da Guarda Municipal para que apure o caso.
Ainda segundo o advogado, as
estudantes não mantêm relacionamento homoafetivo. Apenas se beijaram para se
manifestarem contra a posição preconceituosa do deputado.
"Perseguido"
Enquanto as estudantes
prestavam depoimento na delegacia, Marco Feliciano condenou a atitude das
estudantes. Com todo o público a seu favor, disparou críticas contra as jovens
e seus respectivos pais.
— O que pensam os pais dessas
meninas que vêm a um culto para beijar outra mulher? Esses baderneiros terão o
troco no ano que vem, pois seremos a maior bancada evangélica da história no
Congresso.
Feliciano também criticou a
imprensa.
— Se os jornais publicarem
matérias e derem razão para esses baderneiros, vou convocar uma grande
manifestação nas portas desses jornais para protestarmos na próxima
terça-feira.
Ele se disse
"perseguido" e "humilhado" pela mídia. A reportagem tentou
e não conseguiu contato com o deputado. Em sua conta pessoal no Twitter, Feliciano
postou às 16h08 três mensagens em que apenas transcreve o art. 208 do Código
Penal Brasileiro. "Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença
ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto
religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso: pena
detenção, 1 mês a 1 ano ou multa. P.U. Se há emprego de violência, a pena
aumenta de 1/3, sem prejuízo da correspondente à violência", escreveu o
deputado.
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