RIO - "Ficamos
combinados assim: eu oro por você e você ora por mim." Este é o lema da
rede montada pelo deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) para se fortalecer no
eleitorado evangélico no Rio.
Líder nas pesquisas para a
disputa do governo do Estado, ele começou a organizar um cadastro para
distribuir brindes aos fiéis que ouvem seus programas de rádio.
Cada inscrito ganha um kit com
livro, camiseta e carteirinha personalizada com a foto do ex-governador. O
pacote, enviado de graça pelo correio, inclui uma carta de boas-vindas assinada
pelo "Irmão Garotinho".
"A oração é a chave que
move o coração de Deus. Creia nisso!", pede o deputado na mensagem aos
fiéis.
O formulário deixa claro que
só pode se inscrever quem tem domicílio no Rio, onde Garotinho disputará
eleição daqui a nove meses.
Estado com o menor percentual
de católicos do país (45,8%), o Rio vive uma batalha pela preferência dos evangélicos,
que somam cerca de um terço do eleitorado.
Eles são a principal aposta do
deputado para voltar ao poder. Há oito anos ele apoiou a eleição do governador
Sérgio Cabral (PMDB), mas os dois romperam pouco depois da posse.
A reportagem fez um cadastro
no site de Garotinho e recebeu o kit "Palavra de Paz", na última
quinta-feira, dia 2. A carteirinha identifica o fiel com nome, cidade, bairro e
igreja que frequenta.
Seu portador é nomeado
"intercessor" das orações do pré-candidato ao governo.
Garotinho também investe no
rádio para reforçar o laço com o eleitor e atacar seus adversários. Passa duas
horas por dia no ar em emissoras AM. Seu programa de maior audiência mistura
orações e sorteio de presentes como geladeira e máquina de lavar.
A programação é temperada com
ataques a Cabral e seus aliados. Ontem o principal alvo foi o vice-governador
Luiz Fernando Pezão, pré-candidato do PMDB ao Palácio Guanabara.
"O nome do homem é Pezão,
mas estão dizendo que é Mãozão, porque o dinheiro sumiu", disse Garotinho.
Ele também chamou de
"171" (artigo do Código Penal para estelionato) o ex-secretário
estadual Sérgio Côrtes (Saúde), que deixou o governo Cabral nesta semana.
Mas a tarefa de lembrar que o
âncora será candidato é deixada aos ouvintes. "Só tenho muito a agradecer
ao senhor. Que Deus o ilumine, e que seja o nosso governador em breve",
disse anteontem uma mulher identificada como Sandra de Carvalho. "Isso é
se Deus quiser", respondeu o deputado.
No ano passado, o Ministério
Público ofereceu cinco denúncias contra Garotinho por propaganda antecipada.
Nenhuma delas tratou do kit ou dos programas de rádio.
Ele lidera a corrida ao
governo com 21% das intenções de voto no Datafolha.
Outro lado
Procurado, Garotinho negou que
o cadastro de fiéis tenha finalidade eleitoral. Ele disse que a rede foi
montada há um mês e conta até agora com 3.000 integrantes.
"Isso não tem nada a ver
com campanha, e o livro que eu envio não tem nenhuma conotação
política."
O deputado se disse surpreso
com o fato de o cadastro só aceitar evangélicos com domicílio no Rio: "Não
é minha orientação. Deve ter havido um problema quando fizeram o
formulário". Ele também negou que faça campanha antecipada no rádio:
"Não posso controlar os ouvintes".
"A lei diz que eu não
posso pedir voto. Se a ouvinte diz que espera que eu seja governador, o que eu
vou responder? Que eu não quero?"
(Folhapress)
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